terça-feira, 15 de dezembro de 2015

021 - Medo do Escuro

Olá, meninos e meninas!
Que bom encontrar tod@s vocês novamente! Bem-vin@s a mais uma postagem aqui, na minha, na tua, na sua, na nossa, na vossa, na deles, na Filmoteca!
Ainda estamos tod@s meio baqueados (embora eu creia que a maioria não esteja surpresa) com o falecimento da grande Marília Pêra (que ganhou uma homenagem aqui, na Filmoteca, semana passada). É sempre uma tristeza perder um de nossos grandes, mas o show não pode parar. Temos muito o que ver, muito o que discutir, e a própria Marília não parecia ser alguém de ficar parada.
Eu tenho medo do escuro. Quando era criança, era algo quase irracional (mas eu escondia muito bem). Hoje, o escuro nem me amedronta TANTO assim, até fiz alguma amizade com ele, após anos de crises de enxaqueca.
Ainda assim, se ver só e tendo que lidar com o desconhecido que pode estar à espreita no escuro é algo atemorizante, em qualquer idade. Não raro, é deste temor primordial que filmes de horror se apropriam para criar o clima certo. Dizem que um bom susto, de vez em quando, nos faz bem... Eu digo que há controvérsias, e vocês?
E vamos aos trabalhos da semana!

Fonte da imagem: http://geektyrant.com/

Título: Lights Out
Data de lançamento: 30/12/2013
Direção: David F. Sandberg
Produção: David F. Sandberg
Roteiro: David F. Sandberg
Elenco: Lotta Losten (mulher)
Fonte da imagem: http://www.dailymail.co.uk/
A primeira vez que vi este filme, acreditem se quiser, foi pelo WHATSAPP! Mas como assim, Tom?, me pergunta você, leitor@. Eu respondo: Lights Out é um CURTÍSSIMA metragem: tem a impressionante metragem de dois minutos e quarenta e dois segundos. Você provavelmente levará mais tempo lendo este post que assistindo o filme!
Enfim, este filme me foi enviado pela querida Ana Paula Calixto, e eu inventei de assistir no meio de uma aula no cursinho! Cortem pro momento em que eu quase pulo da cadeira, mas faço barulho suficiente pra TOD@S NA SALA olharem pra mim!
Fonte da imagem: http://www.dailymail.co.uk/
Como se trata dum filme tão curto, a idéia é bem simples: uma moça vai dormir e se vê às voltas com coisas estranhas que parecem aparecer no escuro. Mas será que só PARECE (tcham, tcham, tcham, TCHAAAAAAAAAAAM...)?
O diretor sueco David Sandberg escreveu um roteiro enxuto - sequer há falas - e preciso, como o formato pede, e sua direção criou o clima exato para deixar @ espectador@ em constante estado de tensão. A dúvida sobre o que estamos a ver torna a situação mais enervante a cada apagar e acender de luzes.
Fonte da imagem:https://screencraft.org/
Sou do tipo de pessoa que fecha os olhos em filmes de horror (ou em cenas de vergonha alheia), e na infância era impressionável ao ponto de não querer dormir com medo de Freddy Krueger ou encontrar o Jason em algum banheiro deserto da UFAL (eu acompanhava seu Lula ao trabalho nas férias). Botar uma criança dessas pra quarto cheio de sombras é pedir pra imaginação aflorar e o pobre morrer de medo! E o filme brinca bem com este tipo de paranóia popular.
O sucesso assombroso de Lights Out no YouTube (e sua consequente viralização via Whatsapp) abriram o apetite dos bolsos de muitos figurões em Hollywood (claro que sim...) - e ano que vem, uma versão em longa-metragem sairá quentinha para todos os IMAXes da vida!
Fonte da imagem: http://www.dailymail.co.uk/

Ain, Gizuiz!...
Se eu acho que um curta de menos de três minutos rende um filme longa-metragem? Francamente, nem idéia. As apostas provavelmente devem ir contra - a idéia é bem limitada para esticar tanto o assunto. Eu sei que não irei de modo algum para o cinema verificar o resultado.

Who's There Film Challenge 2013:
Melhor Diretor (David F. Sandberg)
Fright Meter Awards 2014:
Melhor Curta de Horror (David F. Sandberg)

VEJAM TAMBÉM!
Biblioteca

"Unidades de Conservação de Alagoas"
(técnico)
Alex Nazário Silva Oliveira, Clarice Maia F. de Amorim e Rosângela P. de Lyra Lemos
Discoteca

"Be My Baby"
(single)
The Ronettes

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

020 - Indo ao Galeão

Olá, pessoa querida que me acompanha nesta doideira que é a Filmoteca! Que bom lhe ver por aqui!
Bem, estas últimas semanas, eu rolei uma enquete como resposta aos insistentes clamores de algumas pessoas que acompanham meus trigêmeos. Como sempre pediram que eu colocasse notas nas avaliações, eu pensei que esta seria a hora ideal para deixar que VOCÊ, car@ leitor@, decidisse por mim (é, eu sou assim quando tenho minha mente feita e do nada mudo de idéia - a dúvida impera).
Eu tenho certeza de que vocês já viram na Discoteca, mas tenho que anunciar em todos os trigêmeos que a enquete finalizou assim:
Sendo assim, como dizem que a voz do povo é a voz de Deus, faço minhas as palavras de clamor popular e anuncio que o sistema de cotações de obras da Filmoteca, da Biblioteca e da Discoteca permanecem!
APLAUSOS
Fonte da imagem: http://gshow.globo.com/
E então, partamos à obra de hoje, que é disso que o povo gosta, não é?
Este sábado, dia 05 de dezembro de 2015, todo o Brasil enlutou com a notícia do falecimento de Marília Marzullo Pêra. Aos 72 anos de idade, ela não resistiu à metástase de um câncer nos ossos que se espalhou pelos pulmões.
Sempre a considerei uma das maiores oficiantes da grande arte que é a atuação. Ela era alguém que vivia arte: bem mais que interpretar, ela também cantava divinamente bem, bailava e coreografava, dirigia e produzia espetáculos. Uma rara DIVA! Completa!
Então, esta semana, a Filmoteca buscou um filme em que ela tenha reinado absoluta, e mostrasse a tod@s o que é um padrão de excelência mundial. Não havia outra coisa a se fazer, aqui.
Pois esta é a minha homenagem à grande Marília Pêra.

Fonte da imagem: http://www.cinemabrasileiro.net/

Título: Dias Melhores Virão
Distribuição: Embrafilme
Produtora: CDK, Embrafilme e Skylight Cinema Foto Art
Data de lançamento: 1989
Direção: Cacá Diegues
Produção: Cacá Diegues e
Roteiro:
Antônio Calmon, Vicente Pereira, Vinícius Vianna e Cacá Diegues (baseado em história de Antônio Calmon)
Elenco: Marília Pera (Marialva 'Mary' Mattos)
Paulo José (Pompeu)
Zezé Motta (Dalila)
José Wilker (Wallace Caldeira)
Rita Lee (Mary Shadow)
Marilu Bueno (Adelaide)
Paulo César Pereio (Pereira)
Antônio Pedro (Salgado)
Betina Vianny (Janete)
Benjamin Cattan (Ferreirão)
Jofre Soares (Coronel)
Lília Cabral (Secretária)
Aurora Miranda (Aurora)
Sandra Pêra (Tânia)
Antes de começar a discorrer sobre o filme, vou logo bater minha bota na terra! Dias Melhores Virão carrega Alagoas em seu celulóide: o diretor Carlos Diegues, um dos nomes do Cinema Novo brasileiro, é maceioense da gema! E pra mostrar que é homem arretado, tem uma filmografia bem recheada, de fazer inveja a muito Barreto por aí, que abrange clássicos ("Xica da Silva"), filmes de baixo orçamento ("Um Trem para as Estrelas") ou de grande ("Deus É Brasileiro"), originais ("O Maior Amor do Mundo") ou adaptações ("Tieta do Agreste", "Orfeu") - Cacá Diegues joga em todas as pontas! E o mais importante é que, mesmo não vivendo em seu estado natal desde os seis anos de idade, Alagoas nunca saiu de si, nem se duas obras. Seja em narrativa ("Ganga Zumba", "Quilombo") ou em locações ("Deus É Brasileiro", "Bye Bye Brasil"), para cá ele sempre retorna. E ele é um dos raros cidadãos que o Estado soube apreciar - tanto que, em 2000, ele foi agraciado com o título de Cavaleiro da Ordem do Mérito de Palmares, pelo Governo de Alagoas.
Fonte da imagem: https://laamoraa.wordpress.com/
Marialva - ops, perdão, MARY MATTOS, é uma dubladora que sonha em se tornar estrela de Hollywood. Tal qual Roxy Hart, Marialva vive a sonhar acordada - com o primeiro namorado, falecido tragicamente, com Mary Shadow, estrela duma sitcom por ela dublada, com ilusões de grandeza e fama. Eventualmente, ela se relaciona com o diretor de seu grupo de dublagem, que desapercebidamente a incentiva a correr atrás de seu sonho, o que causará muita confusão, na certeza de que Dias Melhores Virão.
O início do filme é precioso e sensível, especialmente quando levamos em conta o período pelo qual o Brasil passava quando o filme foi concebido - a abertura política, o derradeiro final da ditadura e o início da era Collor, pré-extinção da Embrafilme. Marialva levanta questões importantíssimas de identidade cultural brasileira, que perduram até hoje: o estigma de que nenhum trabalho audiovisual que se faça no País presta, enquanto aquilo que se faz nos Estados Unidos, na Inglaterra, no Japão ou até (oh, céus) no México lá fora deve ser celebrado e/ou endeusado. Esta mentalidade vira-lata está presente em posts de amig@s no Facebook, nas conversas com conhecid@s nos mais variados lugares, nos escritos de determinad@s "colunistas de revistas de grande circulação". O próprio tom do filme, pastiche de sitcoms estadunidenses (especialmente "I Love Lucy"), parece ser uma crítica a este pensamento.
Fonte da imagem: http://expirados.blogspot.com.br/
Quando Dias Melhores Virão resolve focar nas doidices de Marialva (especialmente quando o namorado casado entra em cena), a qualidade do filme cai. É como se a identidade que se vinha construindo nos primeiros minutos fosse desconstruída à força e trocada por outra que realmente não é atrativa. E, a partir daí, a narrativa alterna entre um e outro, raramente "dando uma liga" e formando uma unidade.
O roteiro de Dias Melhores Virão, baseado na história de Antônio Calmon, como foi implicitado, não é lá estas coisas, mas o elenco é primoroso e o defende muito bem! Betina Vianny e Marilu Bueno fazem a dobradinha que viria a se tornar, um dia, Violeta e Margarida. O grande Paulo José está adorável como o cineasta frustrado Pompeu (a cena em que toca o clássico "Beatriz" é linda). O saudoso José Wilker está canastrão até o último fotograma de celulóide como o dono de agência de turismo casado (para mim, não há nada errado em ser um ator canastrão - às vezes, é o que funciona: Jack Nicholson e Jake Gyllenhaal estão aí para provar). Outro ponto de nota é a presença de Aurora Miranda em várias pontinhas pelo filme. Se percebermos bem, Marialva não é nada mais, nada menos que uma grande homenagem à irmã dela, Carmem Miranda - aquela que conseguiu tudo o que Mary deseja na vida.
Fonte da imagem: http://expirados.blogspot.com.br/
Zezé Motta, musa de Diegues desde "Xica da Silva", dá vida a Dalila, a voz da razão e maior contraponto a Mary. Negra, pobre e trabalhadora , a personagem toca o assunto do racismo com passagens muito breves, mas certeiras como uma bala perdida: não raro, ela brinca que não pode ser vista pela polícia conversando com uma pessoa branca, porque será confundida com um bandido. Ela mora com um senhor de idade que foi patrão de sua mãe e que eu quero muito matar eletrocutado pelos maus tratos a um pobre gato, e sua vida amorosa (com um admirador estadunidense louco por ela a enviar cartas e mais cartas) expõe toda a inveja de Marialva.
Rita Lee está quase irreconhecível como a caricata Mary Shadow. Embora não indefectível (bastam alguns segundos para perceber que é ela, mesmo), algo nas atitudes e no porte mostram uma pessoa completamente diferente. Ela deveria investir no filão de atriz mais vezes, com certeza! E a canção-título, de sua autoria - com o maridão Roberto de Carvalho (assim como toda a trilha sonora), é um belíssimo e contagiante pedaço de samba pop, cuja letra parece ter saído da mente doidivanas de Mary.
Fonte da imagem: http://www.bcc.org.br/
Mas Dias Melhores Virão é um filme de Marília Pêra. Em suas mãos, Marialva ganhou nuances que a tornam crível. Mesmo com uma personalidade over (que pede um tipo de interpretação mais cartunesco, diferente de quase todo o elenco, que buscou um viés mais realista, mais "novela do Manoel Carlos"), toda a alegria e os figurinos vibrantes (obra da ótima Emília Duncan), Mary é uma mulher triste e solitária - e um papel dos sonhos para qualquer atriz do calibre de Marília. Fica fácil entender a razão dela ter aceitado participar desta película: Mary é um espaço para mostrar suas habilidades em atuação, canto e dança.
Fonte da imagem: http://musicandeu.blogspot.com.br/

Meu coração faz tchica-tchica, bu-tchi!...
Dias Melhores Virão, por trás de toda a sua "plastificação" visual e críticas à situação do cinema brasileiro (e da recepção do público a ele), não deixa de ser um filme peso-pena. É uma obra ideal para se ver numa sessão vespertina destas da vida, com um grupo legal em frente à televisão (detalhe curiosíssimo: o filme estreou NA TELEVISÃO, e não nos cinemas). Com o tempo, veio a se tornar um filme icônico por conta tanto de sua situação de um dos últimos filmes a serem distribuídos pela finada Embrafilme quanto pela atuação singular e premiada da razão de ser deste obra: Marília Pêra.

Denver International Film Festival 1990:
Realização Proeminente na Arte de Filmagem (Cacá Diegues)
Festival Internacional de Cine de Cartagena de Indias 1991:
Melhor Atriz (Marília Pêra)
Melhor Roteiro (Antônio Calmon, Vicente Pereira, Vinícius Vianna e Cacá Diegues)
Associação Paulista de Críticos de Arte 1991:
Melhor Atriz (Marília Pêra)

VEJAM TAMBÉM!
Biblioteca

"Unidades de Conservação de Alagoas"
(técnico)
Alex Nazário Silva Oliveira, Clarice Maia F. de Amorim e Rosângela P. de Lyra Lemos
Discoteca

"It's Obvious It's Obvious"
(album)
Gabe Lopez

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

019 - Down na High Society

Olá, crionças queridas!
Bem-vind@s tod@s a mais uma terça-feira alegre na minha, na sua, na nossa Filmoteca!
Antes de começarmos os trabalhos de hoje, gostaria de lembrar a tod@s vocês que a enquete dos Trigêmeos ainda está rolando, OK? No final da postegm, ela estará disponível, por favor, votem sem medo, quantas vezes quiserem! E DIVULGUEM! Se curtirem a Discoteca, mostrem a@s amig@s; se não curtirem a Biblioteca, mostrem a@s inimig@s; e se forem indiferentes à Discoteca, continuem vindo e recomendem a TODO MUNDO!
Lembrando: a enquete foi criada com base num pedido que recebi de alguns de vocês desde a estréias dos Trigêmeos: colocar notas nas obras avaliadas. Na indecisão que me cerca, passo a decisão final a VOCÊ. Os Trgêmeos devem ou não ter um sistema de nota em suas postagens?
Mais uma vez: a enquete se localiza láááááá em baixo, quase no final da postagem. NÃO DEIXE DE VOTAR!
... E voltemos à programação normal:
Já pensaram como deve ser ruim se sentir um peixe fora d'água? Eu sei que muita gente se sente assim em algum momento da vida: ambientes novos, ou aquela festa em que você não conhece ninguém... E quando, além de ser um peixe fora d'água, você também não é, exatamente, uma pessoa bem quista no local? Terrível, né? Pois trataremos, em parte, disso, hoje - mas com muito jazz!
Vamos aos trabalhos!

Fonte da imagem: http://www.impawards.com/

Título: Bons Costumes
Título Original: Easy Virtues
Distribuição: Ealing Studios, Pathé e Sony Pictures Classics
Produtoras: Ealing Studios, Fragile Films, Endgame Entertainment, BBC Films, Joe Abrams Productions, Odyssey Entertainment e Prescience
Data de lançamento: 08/09/2008
Direção: Stephan Elliott
Produção: Barnaby Thompson, Joseph Abrams e James D. Stern
Roteiro: Stephan Elliott e Sheridan Jobbins (baseado na peça "Easy Virtue", de Noël Coward)
Elenco: Jessica Biel (Larita Whittaker)
Colin Firth (Major Jim Whittaker)
Kristin Scott Thomas (Veronica Whittaker)
Ben Barnes (John Whittaker)
Kimberley Nixon (Hilda Whittaker)
Katherine Parkinson (Marion Whittaker)
Kris Marshall (Furber)
Christian Brassington (Philip Hurst)
Charlotte Riley (Sarah Hurst)
Jim McManus (Jackson)
Pip Torrens (Lorde Hurst)
Georgie Glen (sra. Langridon)
Joanna Bacon (Doris / Beatrice)
Stephan Elliott (convidado da festa)
Sheridan Jobbins (convidada da festa)
Fizz (Poppy)
Fonte da imagem: http://derrickbang.blogspot.com.br/
Larita é uma viúva estadunidense glamourosa e uma piloto de corridas de sucesso, que encontra um jovem inglês chamado John Whittaker após uma vitória em Mônaco. Eles se casam impulsivamente, levando apenas as partes íntimas, e não o cérebro, em consideração como se Mônaco fosse Las Vegas, e ele a leva para conhecer a sua família numa enorme propriedade rural na Grã-Bretanha, onde sete gerações dos aristocráticos Whitaker viveram como grandes fazendeiros. Lá, Larita conhece os pais de John: a fria Veronica e o desgrenhado major Jim Whitaker. Também suas duas irmãs: a louca de pedra Marion e a deslumbrada Hilda.
Fonte da imagem: http://www.allocine.fr/
Tendo preferência por Sarah, a namoradinha de infância de John, Veronica e Marion já se predispoem a odiar Larita de graça, enquanto Jim e Hilda se mostram mais abertos a ela. A coisa piora quando Larita se revela ainda "pior" do que Veronica esperava: estadunidense, independente, ousada, alérgica a flores, que se mistura com a gentalha os empregados e - pecado dos pecados - com um casamento anterior. Embora se mantenha calma diante do constante desdém de Veronica, Larita vai se sentindo cada vez mais isolada diante do choque cultural e da relutância silenciosa de John em sair da casa de seus pais e começarem os dois uma nova família em Londres. Logo uma guerra entre Larita e Veronica se instala na propriedade, tudo em nome dos Bons Costumes.
O show, em Bons Costumes, é de Kristin Scott Thomas. Ela está divertidíssima como a senhora de terra e matriarca que vê seu mundinho ameaçar ruir quando estão todos à beira da falência e ainda se vê obrigada a aceitar em seu seio uma moça completamente fora dos padrões que ela julga aceitáveis. Sua atuação é demasiadamente cáustica e pende para o lado "vilã-Disney", o que dificulta a@ telespectador@ se por em seu lugar, mas creio que a intenção seja justamente esta.
Fonte da imagem: http://www.adorocinema.com/
Colin Firth é daqueles raros seres que são sempre uma presença magnética na tela. Não tenho como negar que meu olhar vai sempre em direção a ele. O fato de ele ser um ator muito bom também ajuda muito. E Jim é uma quebra bem-vinda ao "padrão Darcy" de personagens que lhe vinha sendo imposto desde o estrondoso sucesso de "Orgulho e Preconceito". O ex-major exala tédio com a vida cotidiana na fazenda e relativo escárnio por sua esposa e suas filhas, mas esconde em si a dor de ter nas costas a perda de seu pelotão na Primeira Grande Guerra. Ainda assim, Jim possui um ar mais fácil de conviver que as mulheres com quem convive. Tato Firth quanto Kris Marshall, que faz o mordomo, servem aqui de esteio para a atuação dos demais carregarem a ação da história.
Fonte da imagem: http://www.fanpop.com/
Jessica Biel não fede nem cheira compromete como a mulher campeã com alguma bagagem escondida em seu passado. Pesa contra si o fato de ser muito jovem, ainda, para tal papel. Pesa a seu favor a química quase palpável entre a senhora Timberlake e Firth e a dobradinha eficiente com Scott Thomas (especialmente quando a cortesia forçada entre sogra e nora "evolui" para hostilidade aberta e declarada).
A trilha do filme foi assinada por Elliott e pelo luxuosíssimo Marius de Vries (que trabalhou com Björk, Melanie C, Deborah Blando e foi o responsável pela trilha de "Moulin Rouge"). A trilha faz um pastiche do jazz britânico dos anos 1920, com direito a versões de canções conhecidíssimas, como "Room With a View", "When the Going Gets Tough (The Tough Get Going)", "Car Wash" e até "Sex Bomb"! E o melhor é que o próprio elenco é quem canta as canções (pena que este filme não é um musical)! Ben Barnes canta a maioria delas, até mesmo no filme (é a arma de sedução de John).
A direção de arte, a cargo de Mark Scruton, é competente e luxuosa - com certeza, facilitada quando já se tem à mão propriedades antigas na Inglaterra para desfrutar. Isso com certeza ajudou Niamh Coulter na decoração dos cenários, pois tendo a propriedade, ficou fácil imaginar como alguém como Veronica vivia, pensava e - lógico - decorava a sua casa. Outro trabalho primoroso foi o de Charlotte Walter com os figurinos - especialmente as peças usadas por Larita (OK, faço vista grossíssima aos casacos de pele , à penas mil e aos inúmeros acessórios de couro de todo o elenco). Em dados momentos, me peguei imaginando alguém como Lana del Rey ou Katy Perry usando tais peças em algum show (embora eu não veja Hello Katy usando roupas tão chiques numa apresentação tão cedo em sua carreira).
Fonte da imagem: https://www.youtube.com/
Bons Costumes é uma adaptação de uma peça teatral de Noël Coward escrita e encenada nos anos 1920. Não conheço a peça, então, não sei dizer o que foi mudado ou se a adaptação foi completamente fiel. Uma pesquisa rápida sobre o autor me informou que o moço era dado a comentários sociais - especialmente em tempos da primeira onda crescente do feminismo a estabelecer mudanças na sociedade, pouco a pouco. Esta característica da peça permaneceu, e foi a que mais me chamou a atenção. Vendo de uma perspectiva de 2015, é quase impossível não se identificar com Larita e não torcer por ela, nem desejar que príncipe Caspian John acorde pra vida e enxergue direito a mulher que ele desposou, sem tentar enrolá-la.
Fonte da imagem: http://moreofmafe.blogspot.com.br/
Claro, nem tudo neste "comentário social" é perfeito. Colocar Larita como "sopro de futuro" no ambiente também tem, lá, seus perigos de propagar maus exemplos (ela fuma como uma caipora e, apesar de odiar caça, usa peles e couro numa boa - além de ser chegada a enfiar sua cultura goela abaixo das pessoas). O que me parece implícito é certa predileção pelo modo de vida estadunidense ante qualquer outro - e sabemos bem o que o capitalismo desenfreado e irresponsável trouxe ao mundo (curiosamente, foram os ingleses que levaram esta prática para lá...). Mas não deixa de ser algo que se pode considerar "historicamente correto", se formos analisar que a partir das grandes guerras do século XX, os Estados Unidos se tornariam a potência imperialista da vez - falando especialmente em cultura e costumes. Mas funciona como um exemplo em menor escala de como mulheres independentes, que não necessitam de um homem provendo para si ou lidando com seus desejos, podem ser mal-vistas até mesmo por outras mulheres, o que é um enorme contra-senso.
Fonte da imagem: http://www.alltimebest.co/

And all that jazz...
Pérola feminista, Bons Costumes talvez não seja. Mas é um bom começo - é ótimo para mostrar às meninas pré-adolescentes que há muito mais em girl power que Rainbow Brite.

Festival Internazionale del Film di Roma 2008:
Marc'Aurelio d'Oro de Melhor Filme (Stephan Elliott) - Vencedor: Siddiq Barmak, por "Opium War"
British Independent Film Awards 2008:
Melhor Atriz Coadjuvante (Kristin Scott Thomas) - Vencedora: Alexis Zegerman, por "Simplesmente Feliz"
London Critics Circle Film Awards 2009:
Melhor Atriz Coadjuvante (Kristin Scott Thomas) - Vencedora: Tilda Swinton, por "O Curioso Caso de Benjamin Button"
Newport Beach Film Festival 2009:
Prêmio da Audiência de Melhor Filme (Stephan Elliott)
Festival Internazionale della Scenografia e del Costume 2009:
Melhor Figurino (Charlotte Walter)
Melhor Design de Cenários (John Beard) - Vencedor: Marco Dentici, por "Vincere"
Melhor Atriz (Jessica Biel) - Vencedora: Alba Rohrwacher, por "Il papà di Giovanna"
Australian Writers' Guild 2009:
Melhor Filme - Adaptação (Sheridan Jobbins, Stephan Elliott e Noël Coward) - Vencedores: Andrew Bovell, Melissa Reeves, Patricia Cornelius e Christos Tsiolkas, por "Blessed"

Você acha que o Tom deve colocar nota nos posts dos blogs Trigêmeos?
SIM! Só os textos, às vezes, deixa confuso.
TANTO FAZ. O importante é despertar a curiosidade de conferir.
NÃO! Pra que explicitar algo que já está no texto?
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